sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Desperta, ó tu que dormes!

















O gigante acordou e, sonolento,
Arrastou-se ao banheiro
Defecando instintivamente
Tudo que o fizera outrora mal.
Tornou-se à cozinha
Abriu o cooler
Pegou o limão e a cachaça
E voltou a festar.
Acobertado pelo cansaço
O gigante suspirou
Adentrou em seu quarto
E, subitamente,
Voltou a dormir.
Oh, gigante!
Quando tornarás a levantar?
Ou seria melhor continuar
Em teu berço esplêndido
Eternamente deitado?


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Estas ações




São Paulo, 04-09-13
Aprochegue-se, primavera, aprochegue-se
Traga na tua cor a esperança
Exale teu sutil perfume
Renove meu espírito

Acalente, verão, acalente
Revista-me de expressiva luz
Energize minha alma com teu calor
Molhe meu corpo de emoção

Apazigúe, outono, apazigúe
Alivie as diversas tensões
Faça-me cair em mim mesmo
Cure a sequidão dos meus pensamentos

Conscientize, inverno, conscientize
Esfrie o meu vão orgulho
Aqueça meus sentimentos mais célebres
Cubra-me de súbita reflexão

Nada mais espero que
Estas ações.
Estações.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Álgebra do companheirismo


 
Quantas vezes queremos uma companhia quando estamos só? A solidão machuca, maltrata, incomoda, assusta. Ninguém gosta de viver ou estar só. Por mais introspectiva que seja uma pessoa, ela sempre vai precisar entrar em sintonia com uma outra, através da comunicação verbal ou gestual, da arte, do contato físico, do olhar.
O “ponto X” da questão é que por mais que todo ser humano queira ter uma companhia, muitas das vezes ele não sabe ser companheiro. Esquecem que companhia é diferente de companheirismo. E já que estou algebrizando, o cálculo é bastante fácil, se entendermos que companhia está diretamente proporcional ao companheirismo, resultando numa regrinha de três simples.
Assim sendo, a multiplicação entre companhia e amigos será igual à multiplicação entre companheirismo e pessoas.
Meu objetivo aqui não é complicar as coisas, mas é simplesmente comprovar cientificamente que as pessoas só terão companhias eficazes quando realmente puderem saber como serem companheiras. E companheirismo não se mede, apenas se nota. É representado através de uma ação, um ato, que pode ser feito diariamente, em qualquer hora, em qualquer lugar. Significa apenas depositar no outro o amor que você tem a si mesmo(a). Significa compartilhar sensações e sentimentos. Significa respeitar o limite e modo de vida do próximo. Significa ouvir e ser ouvido. Simplesmente, entrar num processo de empatia e exalar amor às pessoas: conhecidas, íntimas ou não.
Como já mencionei, o companheirismo não pode ser medido, mas sua soma é notória na vida dos que o praticam. Um sorriso de alegria, um gesto de amor, um olhar de compaixão, um ato de carinho, uma palavra de incentivo, são algumas ações que podem mudar o mundo. Talvez demore até que o mundo (planeta) seja integralmente modificado. Mas dentro do micromundo de nossa existência, cada melhoria faz uma boa e grande diferença.
Seja feliz fazendo seu próximo feliz. Seu companheirismo garantirá uma vida repleta de boas companhias e fortes emoções. Companhias absolutamente companheiras. Até porque “mais vale ter um amigo companheiro na praça, do que dinheiro no caixa”.

domingo, 25 de julho de 2010

A banca e o banco


Era uma avenida movimentada. Talvez a mais importante do país. Era repleta de prédios, cujos empreendimentos a cercavam de vida, e estava rodeada de placas e letreiros. Por ela, passavam diariamente diversos rostos sob distintos interesses. Umas à pé. Outras em seus possantes automóveis.

Dentre os vários estabelecimentos comerciais que ali habitavam, havia uma banca. Sim, uma banca de jornal. Simples, graciosa, colorida. Por mais que nas proximidades houvesse outras bancas, aquela tornara-se única, tanto pela sua bela aparência como pela variedade de produtos que ali eram abrigados.

Do outro lado da rua, via-se de longe um banco. Sim, um banco financeiro. Sua marca demonstrava status. Seu interior revelava riqueza. Seu nome e slogan convidavam a nobreza a adentrá-lo.


No meio da noite, enquanto a cidade dormia, a banca volta-se para o banco e pergunta: - Os negócios aí hoje não foram tão bons, foram? – O banco olha para os lados, procurando saber quem teve a ousadia de interromper o seu momento de descanso.

A banca prontamente revela: - Fui eu sim, senhor banco. Como o senhor deve saber, agora há pouco houve um... O banco subitamente a interrompe: - Você não se enxerga? Sou o banco. O melhor de todos. O mais rico e com clientes mais poderosos. Aqui só entra gente nobre, especial. Não fui feito para qualquer um. Falando nisso, como você ousa atrapalhar o meu momento de folga? Não vê que eu já trabalho muito durante o dia e ainda fica me roubando o sono?

A banca fica sem fala. Após ter levado tamanha reclamação em forma de gritos (que quase acordaram a igreja... santa igreja!), ela fica sem voz e recolhe-se ao seu lugar de origem: humilhada, calada, desconsolada.


Passa-se a noite e, no dia seguinte, só se vê correria no banco. Pessoas entram nele e saem raivosas. Outras, chorando. Outras, desesperadas. Tumulto geral.


Chega a noite e, após um longo dia de trabalho, a banca olha pro banco e diz: - Boa noite, Sr. Excelentíssimo Banco, como passou o dia?

O banco, desolado, olha para a banca e fala: - Como eu não sabia que isso iria acontecer? O governo confiscou todas as poupanças dos meus clientes e hoje, quando chegaram aqui para retirar seus ativos, eu não pude entregar a eles o que lhes era de direito.

A banca olha firmemente para o banco e responde:

- É, Seu Banco. Como toda a minha insignificância, eu sabia que hoje o presidente decretaria o confisco das cadernetas de poupança haja vista conter a inflação. Isso estava escrito em alguns dos jornais que eu comercializo aqui. Sou humilde, mas represento idéias, discursos, pensamentos, registros, conhecimento. Não tenho dinheiro, mas tenho informação. Boa sorte, seu banco, pois eu, pequena que seja, continuo aqui vendendo minhas revistas e periódicos.


O banco subitamente olha para a banca e fala: - É, fali.


Salomão Cunha Lima

sábado, 24 de julho de 2010

Deveria, mas não sei.


Por que tenho que aprender
Que a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa
E não sei calcular os juros moratórios de um empréstimo consignado?
Deveria, mas não sei.

Pór que tenho que aprender
Que os fungos são membros de um grande grupo de organismos eucariotas
E não sei como realizar uma massagem cardíaca de primeiros-socorros?
Deveria, mas não sei.

Por que tenho que aprender
Que as orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas ou adverbiais
E não sei como escrever uma resenha textual?
Deveria, mas não sei.

Por que tenho que aprender que E = mc2,
E não sei quais são as matrizes energéticas
Que garantem a sustentabilidade ambiental ao planeta?
Deveria, mas não sei.

Por que tenho que aprender
Que “The book is on the table”,
E não sei conjugar o verbo “to know”?
Deveria, mas não sei.

Aprendemos o que não usamos
Usamos o que não aprendemos
Vivemos o inesperado
Seguimos em direção ao acaso
Porque é bem melhor viver e aprender
Do que aprender e não viver

Só se sabe quando se aprende
Só se aprende quando se ensina
Só se ensina quando se quer aprender
Só se quer aprender quando não sabe

Não saber o porquê
Da vida se tornar assim
Tão complicada e inútil
Quando é pra entender que
O óbvio é tão simples
O lógico tão real
O certo tão perto
O empirismo, vital.

Deveria, mas não sei.